Marina Colasanti
Todos os dias esvaziava uma garrafa, colocava dentro sua mensagem, e a entregava ao mar.
Nunca recebeu resposta
Mas tornou-se alcoólatra
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Tentando se segurar numa alça lilás
Marina Colasanti
Entrou no elevador.
A um canto, outra mulher segurava firme debaixo do braço uma enorme bolsa de couro lilás.
-Que ousadia, uma bolsa lilás - sorriu ela
-Acabei de dizer a um homem que o amo- respondeu a outra.-Então enrei numa loja e, entre todas, escolhi essa bolsa. Eu precisava sentir nas mãos minha audácia.
Não Sorriu. Agarrou-se náufraga na alça
Entrou no elevador.
A um canto, outra mulher segurava firme debaixo do braço uma enorme bolsa de couro lilás.
-Que ousadia, uma bolsa lilás - sorriu ela
-Acabei de dizer a um homem que o amo- respondeu a outra.-Então enrei numa loja e, entre todas, escolhi essa bolsa. Eu precisava sentir nas mãos minha audácia.
Não Sorriu. Agarrou-se náufraga na alça
A paixão da sua vida
Marina Colasanti
Amava a morte. Mas não era correspondido
Tomou veneno. Atirou-se de pontes. Aspirou gás. Sempre ela o rejeitava, recusando-lhe o abraço
Quando finalmente desistiu da paixão entregando-se a vida, a morte, enciumada, estourou-lhe o coração.
Amava a morte. Mas não era correspondido
Tomou veneno. Atirou-se de pontes. Aspirou gás. Sempre ela o rejeitava, recusando-lhe o abraço
Quando finalmente desistiu da paixão entregando-se a vida, a morte, enciumada, estourou-lhe o coração.
Concerto de silêncio, para duas vozes
Marina Colasanti
Surda era Otília,
Não ouvia as palavras de amor que ele dizia. Não ouvia as músicas de amor que ele cantava.
Deslizava os dedos sobre a boca do amado. E nada. Encostava o ouvido no violão. E nada. Nem som nem vibração chegavam até Otília.
Trancada no silêncio, sofria sem encontrar saída. Até que um dia, tomada de doce fúria, cravou os dentes no pinho que ele dedilhava. E penetrando pelos dentes, fluindo pelos ossos, infiltrando-se debaixo da pele, o som varou enfim, ofuscane, a cabeça de Otília.
Surda, porém, Otília não falava.
Não dizia do amor. Não dizia das músicas que agora lhe chegavam.
Afastado pela mudez, sofria ele em busca de saída. Que encontrou ao cravar os dentes, em doce fúria, no branco ombro de Otília. Percorrendo os dentes, deslizando pelos ossos, impregnando toda a pele, ouviu a cadência suavíssima pulsar do som da amada, que enfim lhe chegava.
Surda era Otília,
Não ouvia as palavras de amor que ele dizia. Não ouvia as músicas de amor que ele cantava.
Deslizava os dedos sobre a boca do amado. E nada. Encostava o ouvido no violão. E nada. Nem som nem vibração chegavam até Otília.
Trancada no silêncio, sofria sem encontrar saída. Até que um dia, tomada de doce fúria, cravou os dentes no pinho que ele dedilhava. E penetrando pelos dentes, fluindo pelos ossos, infiltrando-se debaixo da pele, o som varou enfim, ofuscane, a cabeça de Otília.
Surda, porém, Otília não falava.
Não dizia do amor. Não dizia das músicas que agora lhe chegavam.
Afastado pela mudez, sofria ele em busca de saída. Que encontrou ao cravar os dentes, em doce fúria, no branco ombro de Otília. Percorrendo os dentes, deslizando pelos ossos, impregnando toda a pele, ouviu a cadência suavíssima pulsar do som da amada, que enfim lhe chegava.
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